O Natal “Perfeito” para um Nômade Digital


Hoje é um dos dias do ano que eu não sou muito fã. Nunca gostei de Natal e sempre tive dificuldade em me sentir bem nessa data festiva. Não sou religioso e confesso que detesto o marketing agressivo. Talvez seja por isso que eu não goste do Natal?

Durante minha infância, tive natais que lembro como se fosse hoje e natais que eu gostaria de não lembrar nada. Para minha família, sempre se tratou muito de juntar todos, trocar presentes e viver como se ninguém tivesse brigado com ninguém durante o ano todo. Também tínhamos momentos de paz, alegria e muita comida, incluindo uva-passa, que, no meu caso, detesto. Peço desculpas a quem gosta.

Dezembro de 2019 – Meu primeiro natal como Nômade

No meu primeiro mês como nômade, decidi passar o Natal em um hostel, pela primeira vez longe da minha família, com desconhecidos e sem nenhum planejamento sobre o que aconteceria, como seria ou se daria certo. Minha família não gostou nada disso, mas para mim, foi o Natal mais feliz até então.

Hostel da Vila, Ilhabela, Brasil 2019

Estava eu no Hostel da Vila, em Ilhabela, rodeado por viajantes desconhecidos e famílias aleatórias. Pessoas do mundo todo, vivendo como se o Natal não existisse. Até que me veio um estalo enquanto conversava com outras pessoas. Pensei: Por que não fazemos uma ceia de Natal comunitária? Cada um compra algo, colocamos na mesa e jantamos juntos. Se o Natal é sobre comunhão, acho que estamos no lugar certo e com as pessoas certas.

Quando me dei conta, às 20h estávamos todos reunidos para o Natal, sem ter que esperar até a meia-noite para comer, sem assistir Roberto Carlos na televisão, pessoas sorrindo porque queriam estar ali, se abraçando e contando piadas. O Natal, ali, foi ressignificado para mim. Decidi que não passaria mais com pessoas falsas da minha família ou em lugares onde eu sabia que não me sentiria bem, não da forma como vinha sendo por anos.

O Natal de 2020 e 2021 – Novas experiências e conexões

Em 2020, durante meu primeiro voluntariado pela Worldpackers, estava no Green Haven Hostel, em Ubatuba. Mesmo estando no meu horário de trabalho durante o Natal, mais uma vez estava rodeado de pessoas com o mesmo propósito: todos sorrindo, dançando e comemorando a alegria da comunhão, sem presentes, sem religião, apenas sorrisos. Mais uma vez, consegui ressignificar essa data tão difícil para mim.

Green Haven Hostel, Ubatuba, Brasil 2020

Em dezembro de 2021, voltei para Ilhabela, durante meu terceiro voluntariado com a Worldpackers, no mesmo hostel onde vivi meu primeiro Natal longe de “casa”. Inclusive, aquele foi o melhor verão da minha vida até hoje (mas isso fica para um outro post). Esse Natal foi diferenciado. Logo após a pandemia de COVID-19, a vida voltando ao normal, as pessoas mais felizes do que nunca, e, para minha surpresa, havia mais famílias e viajantes do que nos dois últimos natais.

Tivemos uma ceia de Natal, música ao vivo, e que show! Obrigado, Lucas e Fernando. Se vocês estiverem lendo isso, saibam que o talento de vocês é indescritível. Vocês foram feitos para brilhar. Mais uma vez, eu estava no meu turno de trabalho e, mesmo assim, feliz por estar ali, rodeado de viajantes e criando uma nova família. Mal sabia eu que ficaria por três meses com aquelas pessoas. Foi, sem dúvida, um Natal que me marcou muito, mas, mais uma vez, pelas pessoas e não por ser uma data comemorativa.

Hostel da Vila, Ilhabela, Brasil 2021

O Natal de 2022 – A simplicidade

Durante meu sexto voluntariado pela Worldpackers, mas dessa vez não sozinho, estava com minha ex-namorada. No fim do mundo, na Bahia, dentro de uma cabana/barraca em que moramos por um mês, comemoramos o Natal mais simples que já tive. Um panetone, duas tapiocas e água. A felicidade foi encontrada nos momentos simples com pessoas especiais, mais uma vez longe do marketing agressivo do Natal ou da imposição religiosa, do Roberto Carlos e da TV Globo. A propósito, recomendo muito que vocês visitem Corumbau, em breve trago dicas desse paraíso brasileiro.

Canto de Jurema Corumbau, Bahia, Brasil 2023

Natal de 2023 – Voo, boludos e muito vinho

Em Buenos Aires, no dia 24 de dezembro de 2023, desta vez não havia voluntariado nem trabalho, mas eu tinha um voo para outro país bem na noite de Natal. Foi meu primeiro Natal dentro de um voo, vendo os fogos lá de cima, pela janela do avião. Mas antes de contar essa parte, vamos voltar um pouco no tempo.

Aeroporto Arturo Merino, Santiago, Chile 2023

Na véspera de Natal, arrumei minhas malas, fiz o check-in e fui direto para o apartamento de uma amiga. Lá, encontrei outros dois amigos, todos nós nos conhecemos durante nossas viagens. Estávamos entre família, a família que escolhemos para aquela noite. Vinhos argentinos, petiscos, pisco chileno e muito reggaeton. Foram poucas horas, mas uma das mais felizes do meu 2023.

Meus amigos abriram o champagne antes da meia-noite, só para comemorar o Natal comigo, já que eu teria que ir para o aeroporto. Foi um brinde à vida, às viagens e aos momentos como aquele. Meu quinto Natal longe de “casa” chegava ao fim. Diego, Daniel e Carol, vocês foram e são minha família, mesmo longe e cada um em um país. Eu amo vocês e quero outro Natal, mas dessa vez, que eu fique até o fim.

Buenos Aires, Argentina 2023

O Natal de 2024 – De volta ao convívio familiar

Após cinco natais longe de casa, passarei o Natal de 2024 com minha família novamente. Dessa vez, bem reduzida, com novos integrantes e com uma ceia cheia de sorvete e zero uva-passa (pelo menos é o que está planejado, vamos ver na prática, hahaha). Mais um Natal para ressignificar, mais um Natal para celebrar o amor e a união.

Onde quero chegar com esse texto? Trago aqui minha visão sobre o que é o Natal para um nômade como eu. Não falo por todos, falo por mim. O Natal é muito mais do que a Coca-Cola criando uma personagem de vermelho e barba branca. É muito mais do que um livro sagrado. É o verdadeiro espírito de comunhão e amor. Seja lá onde você estiver, celebre a paz e o amor no dia de hoje. Feliz Natal!

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